Vida
Nasceu em Lisboa numa família de alta fidalguia, seu pai Luís de Melo, militar, morre em 1615, na ilha de São Miguel, deixando a par de Francisco com 7 anos de idade, uma filha, Isabel. A mãe, Dona Maria de Toledo de Maçuellos, era filha dum "alcalde mayor" de Alcalá de Henares, e neta do cronista e gramático português Duarte Nunes de Leão. Pensa-se que terá tido a sua educação académica num colégio de Jesuítas (provavelmente, no colégio jesuíta de Santo Antão, onde terá estudado humanidades), e adquiriu uma erudição que se tornaria patente nas obras. Como pretendia seguir a carreira das armas, a exemplo do pai, estudou matemática. Começou, desde cedo, a frequentar a corte. Foi Fidalgo da Casa Real e Cavaleiro da Ordem de Cristo.
Seguiu a vida militar a serviço da armada espanhola na Flandres e na Catalunha. O episódio mais famoso do período ocorreu em 1627, descrito na sua “Epanáfora Trágica”: estando a servir na esquadra comandada por Manuel de Meneses, esteve perto de naufragar no Golfo da Biscaia, tendo atingido a custo a costa francesa. Pouco depois, em 1629, combateu, vitoriosamente, corsários turcos num combate naval no Mar Mediterrâneo e foi armado cavaleiro. Em 1631 recebeu a ordem de Cristo das mãos de Filipe IV de Espanha. A sua presença na corte de Madrid torna-se constante. Capital do Império, a cidade assumia-se como o grande centro político e cultural da Península. Francisco Manuel de Melo entrou aí em contacto com os mais eminentes intelectuais, incluindo o célebre Francisco de Quevedo.
Em 1637 tinha participado na pacificação da revolta de Évora, acontecimento que viria a preparar a Restauração portuguesa. Assim que esta foi declarada por João IV, a coroa espanhola manda prendê-lo por suspeitar do seu envolvimento na revolução em solo luso. Tendo-lhe sido autorizado deslocar-se para a Flandres, fugiu daí para Inglaterra, de onde regressou a Portugal. Em 1641, livre, foi incumbido de missões diplomáticas em Paris, Londres, Roma e Haia. Neste ano aderiu à causa do rei português, João IV, a quem prestará os seus serviços, a nível militar e diplomático.
Seguiu a vida militar a serviço da armada espanhola na Flandres e na Catalunha. O episódio mais famoso do período ocorreu em 1627, descrito na sua “Epanáfora Trágica”: estando a servir na esquadra comandada por Manuel de Meneses, esteve perto de naufragar no Golfo da Biscaia, tendo atingido a custo a costa francesa. Pouco depois, em 1629, combateu, vitoriosamente, corsários turcos num combate naval no Mar Mediterrâneo e foi armado cavaleiro. Em 1631 recebeu a ordem de Cristo das mãos de Filipe IV de Espanha. A sua presença na corte de Madrid torna-se constante. Capital do Império, a cidade assumia-se como o grande centro político e cultural da Península. Francisco Manuel de Melo entrou aí em contacto com os mais eminentes intelectuais, incluindo o célebre Francisco de Quevedo.
Em 1637 tinha participado na pacificação da revolta de Évora, acontecimento que viria a preparar a Restauração portuguesa. Assim que esta foi declarada por João IV, a coroa espanhola manda prendê-lo por suspeitar do seu envolvimento na revolução em solo luso. Tendo-lhe sido autorizado deslocar-se para a Flandres, fugiu daí para Inglaterra, de onde regressou a Portugal. Em 1641, livre, foi incumbido de missões diplomáticas em Paris, Londres, Roma e Haia. Neste ano aderiu à causa do rei português, João IV, a quem prestará os seus serviços, a nível militar e diplomático.
Obra
Sinopse:
Como era a vida de um casal no século XVII? O que devia esperar um homem recém-casado de uma vida a dois em 1600? Para atingir a tão almejada “felicidade do lar”, de acordo com esta obra, o homem da época teria que saber ter controle sobre todos os aspetos do seu domínio e propriedade… incluindo a sua mulher.
“As mulheres são como as pedras preciosas, cujo valor cresce, ou mingua, segundo a estimação que delas fazemos. Os que casam com mulheres maiores no ser, no saber, e no ter, estão em grandíssimo perigo.”
Escrita em 1650 a obra “Carta de Guia de Casados”, apresenta-se sobretudo um texto de auto ajuda, cheia de conselhos práticos para o quotidiano de um casal do século XVII recém casado, e que versa temas tão diversos como o governo económico da casa, até ao relacionamento com os criados. Mas é sobretudo nas sugestões em relação do trato que o homem deve ter para com a esposa que tornaram a obra famosa e controversa e objeto de debate ao longo de vários séculos.
Vista hoje em dia como uma obra cheia de pontos de vista grotescos/cómicos, no seu contexto histórico ela oferece-nos um fresco da mentalidade da época, fundamentado na moral cristã da altura que atribuía à mulher uma função subalterna à do marido, cuja liberdade geográfica se devia limitar às quatro paredes da casa.
Para D. Francisco Manuel de Melo, as mulheres, mais do que companheiras, eram sobretudo propriedade pessoal do marido e devido à sua condição “frágil” tanto deviam ser protegidas a todo o custo, como ser “educadas” e “corrigidas” das suas frivolidades e inconstâncias. Deviam ser também preferencialmente incultas pois disso dependia muito a felicidade do casamento. Há inclusive um ditado português antigo que foi retirado diretamente desta obra e que espelha bem esse ponto de vista: “Que Deus me guarde de mula que faz «him» e de mulher que sabe latim“.
Escrito originalmente, não com o intuito de ser publicado, mas sob a forma de carta (dirigida um amigo anónimo de D. Francisco Manuel de Melo que se ia casar e que lhe pedira conselhos matrimoniais) o texto epistolar, escrito de uma assentada e em centenas de páginas, para além do seu pendor moralizante, tem a particularidade de estar cheio de ilustrações anedóticas e passagens maliciosas, o que torna o conteúdo tão chocante na sua posição de intenção pedagoga, como hilariante.
Não à parte disso, há também toda a ironia do historial do autor e da redação do texto que eleva a obra a patamares do ridículo:
Primeiro, D. Francisco de Melo não era casado nem tinha qualquer experiência no tipo de relações matrimoniais das quais ele disserta com pretensões de sabedoria.
Como era a vida de um casal no século XVII? O que devia esperar um homem recém-casado de uma vida a dois em 1600? Para atingir a tão almejada “felicidade do lar”, de acordo com esta obra, o homem da época teria que saber ter controle sobre todos os aspetos do seu domínio e propriedade… incluindo a sua mulher.
“As mulheres são como as pedras preciosas, cujo valor cresce, ou mingua, segundo a estimação que delas fazemos. Os que casam com mulheres maiores no ser, no saber, e no ter, estão em grandíssimo perigo.”
Escrita em 1650 a obra “Carta de Guia de Casados”, apresenta-se sobretudo um texto de auto ajuda, cheia de conselhos práticos para o quotidiano de um casal do século XVII recém casado, e que versa temas tão diversos como o governo económico da casa, até ao relacionamento com os criados. Mas é sobretudo nas sugestões em relação do trato que o homem deve ter para com a esposa que tornaram a obra famosa e controversa e objeto de debate ao longo de vários séculos.
Vista hoje em dia como uma obra cheia de pontos de vista grotescos/cómicos, no seu contexto histórico ela oferece-nos um fresco da mentalidade da época, fundamentado na moral cristã da altura que atribuía à mulher uma função subalterna à do marido, cuja liberdade geográfica se devia limitar às quatro paredes da casa.
Para D. Francisco Manuel de Melo, as mulheres, mais do que companheiras, eram sobretudo propriedade pessoal do marido e devido à sua condição “frágil” tanto deviam ser protegidas a todo o custo, como ser “educadas” e “corrigidas” das suas frivolidades e inconstâncias. Deviam ser também preferencialmente incultas pois disso dependia muito a felicidade do casamento. Há inclusive um ditado português antigo que foi retirado diretamente desta obra e que espelha bem esse ponto de vista: “Que Deus me guarde de mula que faz «him» e de mulher que sabe latim“.
Escrito originalmente, não com o intuito de ser publicado, mas sob a forma de carta (dirigida um amigo anónimo de D. Francisco Manuel de Melo que se ia casar e que lhe pedira conselhos matrimoniais) o texto epistolar, escrito de uma assentada e em centenas de páginas, para além do seu pendor moralizante, tem a particularidade de estar cheio de ilustrações anedóticas e passagens maliciosas, o que torna o conteúdo tão chocante na sua posição de intenção pedagoga, como hilariante.
Não à parte disso, há também toda a ironia do historial do autor e da redação do texto que eleva a obra a patamares do ridículo:
Primeiro, D. Francisco de Melo não era casado nem tinha qualquer experiência no tipo de relações matrimoniais das quais ele disserta com pretensões de sabedoria.